"Desde
o princípio de sua carreira psicanalítica
até a morte, Jung manteve um vivo interesse e uma
profunda simpatia pelos gnósticos. Já em
12 de agosto de 1912, Jung escreveu uma carta a Freud
a respeito dos gnósticos, na qual qualificou a
concepção gnóstica de Sofia de reaproveitamento
de uma antiga sabedoria que poderia aparecer uma vez mais
na moderna psicanálise. Não lhe faltava
literatura capaz de estimular seu interesse pelos gnósticos,
porque os eruditos do século XIX na Alemanha (embora
quase que em nenhum outro país) devotavam-se diligentemente
aos estudos gnósticos. Em parte como reação
contra a rigidez da Alemanha bismarckiana e a seus efeitos
conformistas, tanto teológicos como intelectuais,
inúmeros eruditos excelentes (Reitzenstein, Leisengang
e Carl Schmidt, entre outros), além de poetas e
escritores criativos (Herman Usher, Albrecht Dieterich),
e, pelo menos, alguns membros da intelectualidade francesa
(M. Jacques Matter, Anatole France) investigaram a tradição
gnóstica.
Quando,
em 1940, perguntaram-lhe se o gnosticismo era filosofia
ou mitologia, ele respondeu com seriedade que os
gnósticos lidam com imagens reais e originais
e não são filósofos sincretistas,
como muitos supoem. Jung reconheceu que imagens
surgem ainda hoje nas experiências interiores
das pessoas, ligadas à individualização
da psique: nisso ele via evidência do fato
de que os gnósticos expressam imagens arquetípicas
reais que, como se sabe, persistem e existem independentemente
do tempo ou de circunstâncias históricas.
Todos
os biógrafos de Jung mencionaram seu profundo interesse
por assuntos gnósticos. Uma das declarações
mais reveladoras a esse respeito é citada por uma
de suas ex-colaboradoras, Bárbara Hannah, que lhe
reproduz as palavras sobre os gnósticos: "Senti
como se finalmente tivesse um círculo de amigos
que me entendessem". A mesma biógrafa também
ressalta que Jung desenvolveu um interesse por Schopenhauer
justamente porque o grande filósofo alemão
lembrava-lhe os gnósticos e a ênfase que
colocavam no aspecto do sofrimento do mundo; além
disso, ele aprovava de todo o coração o
fato de Schopenhauer "não falar nem da providência
onisciente e todo-misericordiosa de um Criador, nem da
harmonia do cosmo, mas ter afirmado abertamente que uma
falha fundamental subjazia ao triste curso da história
humana e à crueldade da natureza; a cegueira da
Vontade criadora do mundo..."
Que
essas são afirmações completamente
gnósticas não é preciso dizer. Como
seu interesse por Schopenhauer remonta à infância,
podemos considerar Jung, sob muitos aspectos, como um
gnóstico "natural', possuidor de uma postura
gnóstica mesmo antes de familiarizar-se com alguns
dos ensinamentos do gnosticismo. Apesar de Jung ter tido
acesso a certo volume de literatura poética e erudita
bem cedo na vida, o que estimulou seu interesse pelo gnosticismo,
ele não contou com quase nenhum material de natureza
gnóstica procedente de fontes originais à
sua disposição.
Como
muitos outros, para informar-se sobre os gnósticos,
Jung teve de se basear nos relatos fragmentados e sobretudo
deslealmente distorcidos dos padres da igreja antignóstica,
em particular Irineu e Hipólito. As pesadas engrenagens
da erudição acadêmica apenas começavam,
com extrema lentidão e mesmo relutância,
a dedicar-se aos três códices coptas Codex
Agnew, Codex Bruce, Codex Askew, que na época mofavam
em vários museus, esperando para ser traduzidos
e publicados.
Pode-se
considerar algo miraculoso que Jung tenha sido capaz de
obter tanta compreensão e extrair tanta informação
valiosa, favorável ao gnosticismo, das polêmicas
dos padres caçadores de hereges da Igreja. A contribuição
de Jung aos estudos gnósticos em geral e a uma
esclarecida interpretação contemporânea
do gnosticismo em particular é pouco menos que
notável em alcance e importância. É
lamentável que essa contribuição
não seja ainda apreciada por um número crescente
de especialistas em gnosticismo, dentro do campo de estudos
bíblicos, embora isso não seja particularmente
surpreendente, em vista do fato de que a maioria desses
eruditos provem de escolas de teologia e de religião
com tendências ortodoxas. Além disso, muitos
deles carecem por completo de qualquer apreciação
séria da psicologia, especialmente do tipo de psicologia
que Jung proclamou.
Afirma-se
que a guerra é por demais importante para ser confiada
a generais; da mesma forma, seria igualmente justo dizer
que o gnosticismo representa uma tradição
de muito valor para ser consignada a estudiosos da Bíblia
e a sofistas de palavras coptas.
A
falta de atenção e respeito dispensados
a Jung por alguns desses eruditos é ainda mais
inacreditável, considerando-se que a influência
de Jung consiste praticamente na única responsável
pelo projeto vital de publicação do maior
acervo de escritos gnósticos originais descobertos
na história: a Biblioteca de Nag Hammadi. Os gnósticos
foram prolíficos escritores da tradição
sacra. Seus inimigos observaram com desaprovação
que os seguidores do instrutor gnóstico Valentino
costumavam escrever um novo evangelho a cada dia, e que
nenhum deles era muito estimado, a menos que desse uma
nova contribuição à sua literatura.
Entretanto, de toda essa profusão de textos, muito
pouco sobreviveu, devido à incansável supressão
e destruição da literatura gnóstica
a que se dedicaram os queimadores de livros e caçadores
de hereges da Igreja que, com o apoio do poder constituído,
obtiveram predominância sobre os seus rivais.
Durante
muitos séculos, não se soube da existência
de nenhuma literatura gnóstica original. Foi somente
nos séculos XVIII e XIX que viajantes, como o destemido
e romântico escocês James Bruce, começaram
a trazer para a Europa, do Egito e localidades vizinhas,
fragmentos de papiros antigos contendo textos. Embora
talvez escritos originariamente em grego, esses haviam
sido traduzidos pelos escribas gnósticos para o
copta, a língua popular do Egito helênico.
Sendo realmente raros os eruditos coptas e demais pessoas
interessadas em gnosticismo, a tradução
desses textos procedeu-se muito lentamente.
Então,
um quase milagre aconteceu. Em dezembro de 1945, pouco
após o término da II Guerra Mundial, um
camponês egípcio encontrou uma coleção
inteira de manuscritos gnósticos enquanto cavava
para extrair fertilizantes na vizinhança de algumas
cavernas, nas montanhas de Jabal al-Terif, próximo
ao Rio Nilo, no Alto Egito. Aparentemente, esses tesouros
fizeram parte, em certa época, da biblioteca do
vastocomplexo fundado na região pelo pai do monasticismo
cristão, o monge copta São Pacômio.
Como
seus predecessores, a descoberta de Nag Hammadi custou
muito a se concretizar. Os métodos lentos dos acadêmicos
foram, entretanto, bastante acelerados pela influência
de um homem que não era nem erudito copta nem especialista
bíblico, mas simplesmente um arqueólogo
da alma humana. Esse homem era, é claro, Carl Jung.
Ele se interessou pela descoberta de Nag Hammadi desde
o princípio; foi um antigo amigo e colaborador
de Jung, o professor Gilles Quispel, que tornou a iniciativa
de traduzir e publicar os livros de Hag Hammadi. E, 10
de maio de 1952, embora a crise política e a dissenção
acadêmica paralisassem todos os trabalhos relativos
aos manuscritos, Quispel adquiriu um dos códices
em Bruxelas, e desta porção da grande biblioteca,
realizou-se a maior parte das primeiras traduções,
envergonhando assim a comunidade erudita, que se viu na
contingência de apressar o trabalho longamente adiado.
Ao
lado os manuscritos gnósticos de Nag Hammadi
encontrado nas montanhas de Jabal al-Terif, próximo
ao Rio Nilo, no Alto Egito.
Esse
documento, intitulado Jung Codex, foi apresentado ao Instituto
Jung de Zurique por ocasião do octogésimo
aniversário do Dr. Jung, tornando-se o primeiro
item da descoberta de Nag Hammadi a ser abertamente examinado
por eruditos e leigos fora do turbulento ambiente não-cooperativo
do Egito dos anos 50. O próprio professor Quispel
declarou ter sido Jung, uma peça-chave no despertar
da atenção sobre os manuscritos e na publicação
da valiosa coleção de Nag Hammadi. Existem
boas razões para se crer que, sem a influência
de Jung, essa coleção também poderia
ter sido relegada à obscuridade pela aparentemente
sempre ativa conspiração da negligência
erudita. (Para maiores detalhes sobre a história
da Biblioteca de Nag Hammadi e a participação
de Jung, ver: H.C. Puech, G. Quispel, W.C. Van Unnik:
The Jung Codex, Londres, M.R. Mowbray, 1955).
Qual
era a verdadeira visão de Jung a respeito do gnosticismo?
Ao contrário da maioria dos eruditos até
bem recentemente, ele jamais acreditou que se tratasse
de uma heresia cristão dos séculos II e
III. Também nunca deu importância às
infindáveis disputas de especialistas a respeito
das possíveis origens do gnosticismo: indiana,
iraniana, grega e outras.
Antes
de qualquer outra autoridade no campo dos estudos sobre
os gnósticos, Jung reconheceu-se por aquilo que
eram: videntes que produziram criações originais
e primordiais, a partir do mistério que ele chamou
de inconsciente.
Quando,
em 1940, perguntaram-lhe se o gnosticismo é filosofia
ou mitologia, ele respondeu com seriedade que os gnósticos
lidam com imagens reais e originais e não são
filósofos sincretistas, como muitos supoem. Jung
reconheceu que imagens surgem ainda hoje nas experiências
interiores das pessoas, ligadas à individualização
da psique: nisso ele via evidência do fato de que
os gnósticos expressam imagens arquetípicas
reais que, como se sabe, persistem e existem independentemente
do tempo ou de circunstâncias históricas.
Ele
identificou no gnosticismo uma poderosa e absolutamente
primordial e original expressão da mente humana,
uma expressão dirigida para a mais profunda e importante
tarefa da alma, ou seja, a obtenção de sua
plenitude. Os gnósticos, como Jung os percebia,
interessavam-se acima de tudo por uma coisa - a experiência
da plenitude do Ser.
Considerando
que isso incorporava seu interesse pessoal e também
o objetivo de sua psicologia, é incontestável
que sua afinidade com os gnósticos e com sua sabedoria
era realmente grande. Essa visão do gnosticismo
não se confinou aos trabalhos psicológicos
de Jung, mas logo entrou no mundo dos estudos gnósiticos
por intermédio do supracitado colaborador, Gilles
Quispel, que, em seu importante trabalho Gnosis als Weltreligion
(1951), apresentou a tese de que o gnosticismo não
expressa nem uma filosofia nem uma heresia, mas uma experiência
religiosa específica, que então se manifesta
como mito e (ou) ritual. É
de fato lamentável que, após mais de vinte
e cinco anos da publicação desse trabalho,
tão poucos tenham apreciado suas significativas
implicações.
Em
vista dessas considerações, pode-se compreensivelmente
indagar: Jung era um gnóstico? Pessoas mal informadas
responderam sim a essa pergunta, querendo dizer com isso
que Jung não era nem um cientista respeitável
nem um bom homem, de acordo com o significado religioso
ortodoxo do termo. Em virtude do uso pejorativo da expressão
gnóstico, muitos dos seguidores de Jung, e ocasionalmente
o próprio Jung, negaram que ele fosse um gnóstico.
Um exemplo bem típico dessas evasivas foi a declaração
de Gilles Quispel, segundo a qual "Jung não
era um gnóstico no sentido comum do termo".
Por outro lado, é muito duvidoso que jamais tenha
havido um único gnóstico no sentido comum
do termo. O gnosticismo não constitui um conjunto
de doutrinas, mas a expressão mitológica
de uma experiência interior. Em termos de psicologia
junguiana, poderíamos dizer que os gnósticos
deram expressão em linguagem poética e mitológica
às suas experiências dentro do processo de
individualização. Ao faze-lo, eles produziram
uma profusão do mais significativo material, contendo
profundas percepções da estrutura da psique,
do conteúdo do inconsciente coletivo e da dinâmica
do processo de individualização.
Como
o próprio Jung, os gnósticos não
descreveram apenas os aspectos conscientes e pessoais
inconscientes da psique humana, mas exploraram empiricamente
o inconsciente coletivo e forneceram descrições
formulações das várias imagens
e forças arquetípicas. Como afirmou
Jung, os gnósticos foram muito mais bem sucedidos
do que os cristãos ortodoxos na descoberta
de expressões simbólicas adequadas
do Ser, e essas expressões assemelham-se
às formuladas por Jung.
Carl
Gustav Jung (1875-1961)
O fundador da escola analítica de Psicologia
Carl
Gustav Jung foi um dos maiores psiquiatras do mundo.
Fundador da escola analítica de Psicologia,
ele introduziu termos como extroversão, introversão
e o inconsciente coletivo.
Jung
ampliou as visões psicanalíticas de
Freud, interpretando distúrbios mentais e
emocionais como uma tentativa do individuo de buscar
a perfeição pessoal e espiritual.
Embora
Jung não tenha se identificado abertamente com
o gnosticismo como escola religiosa , da mesma forma que
não se identificou com nenhuma seita religiosa,
pouca dúvida pode existir de que ele fez, mais
do que qualquer outra pessoa, lançar luz sobre
o impulso central das imagens e da prática simbólica
gnósticas. Ele viu no gnosticismo uma expressão
particularmente valiosa da luta universal do homem para
readquirir a plenitude. Embora não fosse prático
nem modesto que ele o dissesse, não há dúvida
de que essa expressão gnóstica do anseio
pela plenitude só foi reproduzida uma vez na história
do Ocidente, e isso se deu no próprio sistema da
psicologia analítica de Jung.
Que
tipo de gnóstico era Jung? Certamente, não
um seguidor literal de nenhum dos antigos mestres da Gnose,
o que teria sido um empreendimento impossível,
diante da insuficiência de informações
detalhadas a respeito desses e de seus ensinamentos. Por
outro lado, como os gnósticos do passado, ele formulou
pelo menos os rudimentos de um sistema de transformações
ou individualização, que se baseava não
na fé numa fonte exterior (seja Jesus ou Valentino),
mas na experiência interior, natural da alma que
sempre representou a fonte de toda verdadeira Gnose.
A
definição léxica de gnóstico
é conhecedor, e não seguidor de alguém
que pode ser um conhecedor. Jung sem dúvida era
um conhecedor, se é que já houve algum.
Negar que ele era um gnóstico nesse sentido equivaleria
à negação de todos os dados reconhecidos
sobre sua vida e seu trabalho. A mais provável
indicação do caráter especificamente
da linha seguida por Jung, no entanto, não é
outra senão o tratado intitulado Sete Sermões
aos Mortos, o qual, segundo admitem proeminentes Junguianos,
constitui a fonte e a origem de seu trabalho posterior.
Quem, a não ser um gnóstico, escreveria
ou poderia escrever uma obra como esses sermões?
Quem optaria por revestir suas revelações
arquetípicas pessoais, que formam o esqueleto do
trabalho de sua vida a terminologia e o estilo mitológico
da Gnose Alexandrina?
Quem
preferiria eleger Basílides, em vez de qualquer
outro vulto, como autor dos Sermões? Quem usaria
com versada compreensão e finesse, termos como
Pleroma e Abraxas para simbolizar estados psicológicos
altamente abstratos?
Há
apenas uma resposta para essas perguntas: somente um gnóstico
faria essas coisas. Como Carl Jung realizou tudo isso
e muito mais, podemos portanto considera-lo gnóstico,
tanto no sentido geral de um verdadeiro conhecedor das
mais profundas realidades do ser psíquico como
no sentido mais estrito de moderno restaurador do gnosticismo
dos primeiros séculos da era cristã.
Jung
e a Gnose Pansófica
De
acordo com Morton Smith, notável descobridor do
Evangelho Secreto de Marco, o termo gnostikoi em geral
se aplicava a pessoas de tendência pitagórica
e ou platônica, embora naturalmente a expressão
Gnose apareça nos escritos de muitos autores ligados
a outras escolas, incluindo Padres da igreja ortodoxa
cristã, como Orígenes e Clemente de Alexandria.
A Biblioteca Gnóstica de Nag Hammadi continha cópias
da República de Platão e também de
certos tratados herméticos que os eruditos puristas
da vindima contemporânea jamais sonhariam incluir
na literatura gnóstica. Tudo isso fornece indícios
para convicção de que, já em tempos
primitivos, quando as escolas gnósticas ainda estavam
vivas fisicamente, o gnosticismo caracterizava-se por
um considerável ecumenismo e flexibilidade. Os
membros da suposta comunidade gnóstica do Alto
Egito provavelmente teriam definido a literatura gnóstica
como qualquer escritura de valor espiritual, capaz de
produzir Gnose no leitor.
Acadêmicos
versados em gnosticismo podem aspirar ao status de puristas,
mas os próprios gnósticos nunca o foram,
nem poderiam ser. Assim, nos séculos posteriores,
após a destruição das comunidades
gnósticas primitivas e de suas escrituras, o espírito
gnóstico continuou a viver sob muitos nomes e disfarces,
servindo ainda a seus propósitos originais e imorredouros.
Enquanto existir uma luz na individualidade mais recôndita
da natureza humana, enquanto existirem homens e mulheres
que se sintam semelhantes a essa luz, sempre haverá
gósticos no mundo.
Podemos
considerar sua contínua existência resultante
em grande medida da sobrevivência dos arquétipos
gnósticos no inconsciente coletivo e da própria
natureza dos processos de crescimento e desenvolvimento
da psique em si. Jung, indubitavelmente sabia disso quando
se referiu ao processo de confronto com a sombra (o reconhecimento
da parte inaceitável ou má de nós
mesmos) como um "processo gnóstico".
Os
padres da Igreja cunharam a frase anima naturaliter christiana
(a alma que é cristã por natureza); entretanto
os gnósticos, com muito maior legitimidade, poderiam
ter dito que o conteúdo da alma e sua senda de
crescimento são por natureza gnósticos.
O inegável caráter arquetípico do
gnosticismo não constitui a única causa
de sua sobrevivência.
Além
do caráter gnóstico do inconsciente, que
tende espontaneamente a produzir sistemas gnósticos
de realidade, existe também um desenvolvimento
histórico e uma continuidade ligando os antigos
adeptos do gnosticismo a seus herdeiros de períodos
históricos posteriores.
Movimentos
subterrâneos raras vezes se prestam como objetos
para o historiador. Compelidos ao segredo pelo ambiente
hostil, sua principal preocupação é
a sobrevivência, e portanto eles deixam relativamente
poucos vestígios perceptíveis no solo do
tempo. Grande parte, embora não a totalidade, da
história gnóstica posterior aos séculos
III e IV constitui-se de especulação e intuição
em lugar de fatos. Contudo, nessa tênue estrutura
de segredos e subterfúgios, de evasões e
ocasionais declarações ousadas, certos dados
significativos se sobressaem com singular força
e brilho.
Como
um desses dados encontra-se a vida e o trabalho do esplêndido
profeta Mani (215-277 d.C.), cuja estrela se elevou justamente
quando a dos gnósticos declinava. Mani foi um gnóstico,
tanto pela natureza de seu caráter como em virtude
da tradição. Aos doze anos de idade, recebeu
a visita de um anjo que lhe anunciou haver sido escolhido
para grandes tarefas. Aos vinte e quatro anos o anjo voltou
à sua presença e exortou-o a aparecer em
público e proclamar a sua doutrina.
O
termo persa que designa esse anjo significa gêmeo;
tratava-se do irmão gêmeo espiritual ou Eu
Superior (o Ser) de Mani. O tratado gnóstico conhecido
como Pistis Sophia relata um incidente semelhante na vida
de Jesus, que em sua juventude foi visitado por um anjo
que parecia irmão gêmeo e a quem Jesus uniu-se
quando se abraçaram. Esses mitos expressam o encontro
junguiano ente o ego e o Self (Ser), com a conseqüente
união dos opostos.
Descobertas
recentes parecem indicar, no entanto, que o pai de Mani,
Patiq, viajou à Síria e à Palestina
e lá juntou-se a um grupo judeu ou mandeano de
caráter gnóstico. Portanto, com toda a probabilidade,
Mani recebeu instrução gnóstica de
seu pai ou dos mestres de seu pai.Mani foi cruelmente
executado por um traiçoeiro monarca instigado pelo
clero zoroastriano, mas sua religião continuou
a florescer em muitos lugares por vários séculos,
tornando-se a principal fonte de transmissão da
tradição gnóstica. Ainda em 1813,
a ordem maniqueísta do Lótus Branco e da
Nuvem Negra continuava politicamente ativa na China, e
parece haver indicações da existência
de remanescentes maniqueístas no Vietnã
em 1911. Ao contrário dos primeiros mestres gnósticos,
Mani era um hábil organizador, e os missionários
de sua igreja foram infatigáveis viajantes e pregadores.
Na
Europa, por duas vezes, a Gnose maniqueísta ergueu
a cabeça com poderosa audácia: uma das regiões
balcânicas da Bulgária e da Bósnia,
onde seus seguidores eram conhecidos como bogomilos, e
outra no sul da França, região em que seus
adeptos ficaram conhecidos como cátaros ou albigenses.
Embora sempre imersa em sangue, sua influência penetrou
o campo religioso e cultural de muitos países,
ajudando a reforçar a corrente oculta das tradições
gnósticas, que continuariam a sobreviver em segredo.
Enquanto
os herdeiros espirituais de Mani expunham seus ensinamentos
gnósticos abertamente, a despeito de esmagadoras
desvantagens, várias tradições estritamente
secretas continuaram a existir, em especial na Europa
e no Oriente Médio. Foi com uma dessas tradições
ocultas da Gnose que Carl Jung estabeleceu um vínculo
muito significativo. A tradição a que nos
referimos é a Alquimia.
Em
discurso durante a apresentação do célebre
Jung Codex, da coleção de Nag Hammadi, ao
Instituto C. G. Jung, Jung destacou dois representantes
principais da tradição gnóstica:
a Cabala judaica e o que ele chamou de "Alquimia
Filosófica". Jung estava familiarizado com
a Cabala e era leitor assíduo de uma de suas maiores
obras, a tradução latina do Zohar realizada
por Knorr von Rosenroth e conhecida como Kabbalah Denudata.
A pricipal modalidade da Gnose que muito atraiu Jung,
no entanto, não foi a Cabala, mas a Alquimia. Ele
teceu extensos comentários em muitos volumes de
seus melhores escritos sobre seu intricado simbolismo
e suas notáveis metáforas transformadoras.
Muitos
têm curiosidade de saber por que Jung teria escolhido
a obscura e amplamente ridicularizada disciplina oculta
da Alquimia como um dos assuntos favoritos de sua pesquisa.
A resposta para o dilema, embora tenha sido dada de forma
clara pelo próprio Jung, não conseguiu provocar
a devida reação. Durante cerca de doze anos,
desde a I Guerra Mundial até 1926, Jung devotou-se
com grande zelo ao estudo da literatura sobre o gnosticismo
disponível na época. A despeito do caráter
fragmentário e distorcido desse material literário,
ele se informou bem sobre o assunto e imbuiu-se completamente
de seu espírito, como o comprova o conteúdo
dos Sete Sermões aos Mortos. O que Jung não
conseguiu encontrar, no início, foi algum tipo
de ponte ou elo que pudesse relacionar os antigos gnósticos
com os dos períodos mais recentes, incluindo os
contemporâneos. Necessitava-se de algum vaso sagrado,
como o Graal, onde o precioso elixir, uma vez utilizado
por mestres como Valentino e Basílides, fosse preservado
e no qual fosse transportado ao longo dos séculos
para atrair os possíveis Parsifais gnósticos
de nossa era. A intuição indicou a Jung
que devia existir essa ponte, um elo de ligação
na cadeia da sabedoria, mas ele não conseguia perceber
racionalmente onde procura-lo. Então, como sempre,
foi auxiliado por um sonho.
Esse
transportou-o ao século XVII, quando a Alquimia
ainda prosperava na Europa. Um reconhecimento despertou
nele. Aqui está, pensou, o elo que faltava na estirpe
da gnose! Assim, começou sua grande pesquisa, a
qual levou-o finalmente a proclamar que a alquimia, de
fato, representava e elo histórico com o gnosticismo
e que, portanto, existia uma continuidade definitiva entre
o passado e o presente. Jung declarou que, fundamentada
na filosofia natural da Idade Média, a Alquimia
formava, de um lado, a ponte em relação
ao passado, com o gnosticismo, e, do outro, ao futuro,
com a moderna psicologia profunda. Assim surgiu um dos
marcos significativos da pesquisa histórica esotérica.
Descobriu-se
que a Alquimia constituía justamente a ponte através
da qual a Gnose do passado atravessou a tempo adentrando
o mundo moderno como a psicologia Junguiana do inconsciente.
As implicações relativas às conexões
do pensamento de Jung com o gonosticismo, apesar de raras
vezes mencionadas no passado, são entretanto evidentes
para todos. Pode-se resumi-las da seguinte maneira: Jung
poderia ser visto como um gnóstico moderno que
absorveu a Gnose, tanto por meio de sua transformação
interior como por seus estudos que confirmam a literatura
gnóstica. Ele sabia que expunha em sua psicologia
uma disciplina essencialmente gnóstica de transformação,
sob a aparência contemporânea. Jung precisava
descobrir uma ligação histórica entre
seus próprios esforços e aqueles dos mestres
gnósticos da antiguidade. Também precisava
de uma exposição do método gnóstico
de transformação que não fosse fragmentária
mas contivesse um vocabulário adequado de símbolos
psicologicamente válidos para serem utilizados
no contexto do estudo da mente humana hoje. Na
Alquimia, encontrou exatamente o que procurava. Assim,
a resposta a seus sonhos veio anunciada por um sonho.
Na
Alquimia, Jung contatou um dos mais importantes ramos
do que se tem por vezes chamado de Tradição
Pansófica ou a herança de sabedoria originária
de fontes gnósticas, herméticas e neoplatônicas,
através de numerosas manifestações
posteriores até a época contemporânea.
Como Jung reconheceu, essa tradição pansófica
ou teosófica, assumiu muitas formas no decorrer
dos tempos, mas foi também particularmente expressa
no fim do século XIX e início do XX dentro
do movimento da Teosofia, enunciado pela aristocrata e
cosmopolita russa, madame H.P. Blavastsky. Em obras como
The Undiscovered Self e Civilization in Transition, Jung
identificou claramente a moderna Teosofia como uma importante
manifestação contemporânea do gnosticismo,
comparando-a a uma cadeia de montanhas submarina que se
estende sob as ondas das principais correntes de Cultura,
com apenas os picos tornando-se visíveis de vez
em quando, através da atenção recebida
por Madame Blavastsky, Annie Besant, Krishnamurti e outros.
Como
Jung várias vezes enfatizou, o cristianismo ortodoxo
(deve-se incluir também o judaísmo ortodoxo)
comprovadamente deixou de atender às mais profundas
e essenciais necessidades da alma da humanidade ocidental.
A teologia cristã era por demais racionalista,
reducionista e insensível às profundas potencialidades
da alma humana. Enquanto a Igreja aliava-se, uma após
outra, a instituições seculares irremediavelmente
não espirituais, de Constantino a Mussolini, seu
espírito se atrofiou sob a influência perniciosa
da lógica aristotélica e de outras estruturas
de pensamento que sufocaram o anseio de transformação
psíquica pessoal dos crentes. Nesse clima de aridez
espiritual, que persistiu por cerca de 1700 anos, o desejo
de individualização voltou-se quase sempre
para a espiritualidade alternativa dos ensinamentos Pansóficos
ou Teosóficos; estes, embora não exclusivamente
gnósticos no sentido clássico, continham
muitos ingredientes do gnosticismo.
O
século XVII, para o qual Jung viu-se transportado
em seu sonho alquímico, representou um dos pontos
mais importantes na história do aparecimento dessa
tradição alternativa da espiritualidade.
Foi nessa época que o movimento que Francês
Yates chamou de Iluminismo Rosacruciano induziu a Alquimia
helenística a colaborar com o gnosticismo judaico
da Cabala e os métodos de magia teúrgica,
originários tanto do gnosticismo como do neoplatonismo.
O
maior luminar dessa contraparte espiritual do Renascimento
literário e artístico foi um homem por quem
Jung teve uma extraordinária e irresistível
afinidade interior, Phillipus Aureolus Theophrastus Paracelsus
Bombastus (Paracelsus), de Hohenheim, que, como ele, era
suíço, médico e um homem determinado
a juntar os opostos da ciência e da espiritualidade
em uma unidade operante. Apesar de ser um exuberante e
gigantesco homem da Renascença, cheio de curiosidade
científica e de aspirações espirituais
- sem falar das tendências emocionais e físicas
de proporções igualmente heróicas
- Paracelso foi sob muitos aspectos um verdadeiro gnóstico.
Lutador, arrogante, intensamente independente (seu mote
era "Aquele que pode ser ele próprio, não
deveria ser outro"), nutriu supremo desprezo pelo
mundo do poder, do dogma e dos valores estabelecidos.
Viajante solitário e nômade, percorreu quase
todo o mundo conhecido de seu tempo, morrendo misteriosamente
e sozinho em Salzburgo, Áustria, onde até
sua tumba foi encontrada vazia, anos depois. De maneira
muito semelhante a Jung, ele considerava a enfermidade
um fenômeno espiritual relacionado com o significado
universal da vida dentro de um cosmo mágico. Seu
epigrama "A Magia é uma Grande Sabedoria Oculta
- A Razão é uma Grande Loucura Pública"
poderia ser facilmente adaptado para caracterizar a descoberta
que Jung fez sobre a significativa não racionalidade
do inconsciente, repleto da sua própria magia simbólica
e revelando-se nas maravilhas da sincronicidade.
Bem
no início de sua carreira (1929), falando
na mesma casa onde Paracelso nasceu, em Einsiedeln,
Suíça, Jung traçou repetidas
comparações entre a filosofia do grande
médico ocultista e os ensinamentos do gnosticismo.
Jung reconheceu no princípio cosmogênico
proposto por Paracelso, e por ele chamado de Hylaster,
uma forma de demiurgo gnóstico ou divindade
subordinada à divindade suprema, algumas
vezes considerado o criador do mal.
Ele
relacionou a visão alquímica das potencialidades
arquetípicas encerradas na matéria
com o conceito gnóstico das centelhas de
luz espalhadas pelo universo obscurecido. Com singular
clareza, ele percebeu como o oculto materialismo
de Paracelso e dos alquimistas não passava
de uma forma nova do visível e extremo idealismo
dos gnósticos.
Jung
constatou que o mesmo processo de transformação
que os gnósticos simbolizavam como a viagem da
alma através das regiões eônicas aparecia
no simbolismo de Paracelso como a transformação
gradual da negra prima matéria no ouro brilhante
da obra alquímica. Embora pólos opostos
na aparência, gnósticos e alquimistas compartilhavam
uma busca comum. Eles também se opunham a um inimigo
comum, o Cristianismo ortodoxo, que sempre foi incapaz
de apreciar tanto as potencialidades de transformação
da matéria como a santidade, de fato a divindade,
naturalmente inerente e autêntica da psique humana.
Em vez da apreciação de uma ou ambas dessas
proposições gnósticas e alquímicas,
a Igreja escolheu definhar no limbo psicológico
composto pela lógica aristotélica e pela
obsessão semítica com relação
a leis morais e mandamentos. Paracelso e os alquimistas
eram caros a Jung, por representarem para ele uma poderosa
manifestação da Tradição Pansófica,
proveniente do antigo gnosticismo.
Paracelso,
Pico da La Mirandola, Ficino e seus companheiros podem
ter iniciado a fusão Pansófica de disciplinas
mágico-filosóficas de transformação.
No entanto, essa síntese teosófica ou pansófica
alcançou a realização máxima
no século XVII, com os autores desconhecidos da
Fama Fraternitatis, da Confessio Fraternitatis e de Chymical
Wedding of Christian Rosen Kreuz, bem como os escritores
e atividades dos ocultistas reanscentistas ingleses: John
Dee (grande alquimista), Thomas Vaughan e Robert Fludd.
A
supracitada historiadora Francês Yates, prova, em
seus mais convincentes trabalhos eruditos (Giordano Bruno
e a Tradição Hermética, assim como
The Art of Memory, The Theatre of the World e O Iluminismo
Rosa-Cruz) que a arte, a ciência, a literatura e
o teatro da Renascença possuem um vínculo
orgânico com as realizações pansóficas,
de certa forma, delas fazendo parte. Foram a magia gnóstica
e hermética, a Alquimia e o misticismo heterodoxo
que serviram como fonte das águas vivas, da qual
as maiores luzes da cultura ocidental, de Galileu a Shakespeare,
extraíram sua inspiração e alimento
espiritual
.O
século XVII leva-nos assim ao XVIII, quando o martinismo,
a franco-maçonaria, os iluminados e os neotemplários
carregaram a tocha da tradição espiritual
alternativa até a Idade da Razão. O Clube
Jacobino e outras associações anticlericais
e antimonarquistas, na França e em toda parte,
constituíam ramificações politizadas
das ordens esotéricas, em parte inclinadas a vingar
os séculos de perseguições feitas
aos representantes de espiritualidade heterodoxa, pelos
poderes do trono e do altar. Conta-se que, ao ser conduzido
ao cadafalso, o rei Luís XVI exclamou: "Esta
é a vingança de Jacques de Molay"(O
último grão mestre dos maçons)! Mas,
embora tronos desmoronassem e as luzes dos altares se
extinguissem, os defensores da nova aurora do espírito
vieram a constatar que o triunfo da sabedoria ainda estava
distante. Novos tiranos substituíram os monarcas
do passado e o dogma eclesiástico cedeu lugar ao
materialismo, aniquilador da alma, de uma arrogante ciência
jovem.
A
era das trevas começou. Religiões semimortas
continuaram a combater a ciência, enquanto as chaminés
encardidas da Revolução Industrial reduziam
os camponeses a proletários e elevavam os mercadores
e agiotas à categoria de capitalistas. Restaram
apenas o artista e o poeta para reavivar a chama vacilante
da tradição espiritual alternativa. William
Blake, Shelley, Goethe, Holderlin e, posteriormente, W.B.
Yates e Gustav Meyrink, assim como os pintores Moreau
e Mucha - a exemplo dos pré-rafaelitas e de outros
artistas esotéricos - consciente e por vezes desesperadamente,
defendiam a tradição Pansófica. Mesmo
no final da vida, Jung confidenciou a Miguel Serrano:
"Ninguém compreende, só um poeta poderia
começar a entender", falando, assim, pela
situação de toda a corrente de transmissão
esotérica nos séculos XIX e XX.
A
aurora sempre irrompe no momento mais escuro da noite.
Do torpor em que se encontrava a cultura do século
XIX, novas figuras surgiram e, como arautos, magicamente
produziram uma nova-velha luz solar. Wagner, Nietzsche,
Kierkegaard e inúmeras figuras de menor importância,
cada qual à sua maneira, expressaram elementos
da tradição Pansófica. Como um trovador
cátaro emergindo da pira da Inquisição,
Richard Wagner cantou as glórias do Graal exibiu
os Deuses despertos do passado pagão. Nietzche,
o neopagão passional, expressou um verdadeiro desprezo
gnóstico pelas estruturas pusilânimes daquilo
que ele via como um cristianismo degenerado e alienado,
enquanto Kierkegaard,o melancólico dinamarquês,
evocou a angústia existencial e a alienação,
repetindo a proeza dos primeiros gnósticos.
Todas
essas tentativas, porém, não conseguiram
chegar ao passo decisivo, dado há muito tempo por
Valentino, Basílides, Marcião e outros gnósticos,
que não conseguiram nem um salto de fé nem
um mergulho no desespero, mas o ingresso nas regiões
eônicas da psique humana. Ali, os deuses arquetípicos
aguardam o ego neófito a ser iniciado nos mistérios.
A psicologia profunda tornou-se, dessa forma, a conclusão
lógica de um longo processo que trouxe a tradição
pansófica das costas ensolaradas do Mediterrâneo
à Europa e à América, assim como
da antiguidade clássica, passando pela Idade Média
e séculos subseqüentes, aos tempos paradoxais
das duas Guerras Mundiais, do nazismo, do fascismo e do
marxismo, além dos demais surpreendentes elementos
que compõem o século XX.
Religião,
ciência, filosofia, arte e literatura representavam
abordagens apenas parciais do grande mistério da
alma; cada qual, como a faceta de uma gema lapidada, era
fragmentária em seu próprio isolamento.
Somente duas forças, surgidas no final do século
XIX e início do XX, direcionaram-se para o fogo
central do diamante multifacetado da alma e tentaram,
a seu modo, entender a dinâmica do brilho de sua
luz.
Essas
duas forças foram o ocultismo moderno, introduzido
pela Teosofia de Madame Blavatsky, e a moderna psicologia
profunda, iniciada por Freud e levada a novas dimensões
criativas por Jung. A primeira seguiu o antigo padrão
da tradição espiritual alternativa, buscando
uma abordagem particular ou quase religiosa. A segunda
aspirava a tornar-se uma ciência, embora se revelasse
mais uma disciplina semicientífica, meio arte e
meio ciência. Só o tempo dirá se essa
moderna disciplina da alma conseguirá corresponder
às suas elevadas expectativas e cumprir sua promessa
pendente.
Na
pessoa e no trabalho de C.G. Jung, a moderna psicologia
profunda chegou muito perto de revelar o grande segredo;
ela esteve próxima de aperfeiçoar o trabalho
gnóstico-alquímico.
Será
a magnum opus conduzida a novo estágio, rumo à
realização? Quem serão os alquimistas,
os gnósticos do futuro? Sabemos que o gnosticismo
de Samael Aun Weor (kalki avatara da era de aquário)
se encontrará com o gnosticismo histórico,
e disso resultará a base do espiritualismo do III
Milênio.