A
Estrela da Manhã
Eliphas
Levi
Da obra: "Dogma e Ritual da Alta Magia"
"Gloria,
pois ao Pai que sepultou o exército de Faraó
no Mar Vermelho!
Glória
ao Filho que rasgou o véu do templo e cuja
pesadíssima cruz, posta sobre a coroa dos césares
lançou por terra a fronte dos césares!
Glória
ao Espírito Santo, que deve varrer da Terra
com seu sopro terrível todos os ladrões
e todos os algozes, para dar lugar ao banquete dos
filhos de Deus!
Glória
ao Espírito Santo, que prometeu a conquista
da Terra e do Céu ao anjo da liberdade.
O
anjo da liberdade nasceu antes da aurora do primeiro
dia, antes do próprio despertar da inteligência,
e Deus a chamou de Estrela da Manhã.
Ó
Lúcifer! Tu te separaste voluntária
e desdenhosamente do céu onde o sol de afogava
em sua claridade, para sugar com teus próprios
raios os campos incultos da noite.
Tu
brilhas quando o sol se deita, e teu olhar cintilante
precede o despertar do dia.
Tu
cais para subir de novo; experimenta a morte para melhor
conhecer a vida.
Tu
és a gloria dos antigos do mundo, a estrela da
tarde para a verdade, a bela Estrela da Manhã.
A
liberdade não é a licença; pois
a licença é a tirania.
A
liberdade é a guarda do dever, porque revindica
o direito.
Lúcifer
de quem as idades de treva fizeram o gênio do
mal, será verdadeiramente o anjo da Luz, quando
tendo conquistado a liberdade a preço de reprovação,
fazer uso dela para se submeter à ordem eterna,
inaugurando assim a glória da obediência
voluntária.
O
direito é somente a raiz do dever, é preciso,
pois para dar.
Ora,
eis como uma alta e profunda poesia explica a queda
dos anjos.
Deus
dera aos espíritos a luz e a vida, depois disse-lhes:
-Amai.
Que
é amar? Responderam os espíritos.
Amar
é dar-se aos outros, respondeu Deus, Os que amarem,
sofrerão, mas serão amados.
-Temos
o direito de nada darmos e nada querermos sofrer, disseram
os espíritos inimigos do amor.
Ficai
no vosso direito, respondeu Deus, e separemo-nos. Eu
e os meus queremos sofrer e até morrer para amar.
É nosso dever!
O
anjo decaído é, pois aquele, que desde
o princípio recusou amar; ele não ama
e é todo o seu suplico; ele não dá,
e é sua miséria; ele não sofre,
e é seu vazio; ele não morre e é
o seu exílio.
O
anjo decaído não é Lúcifer,
o porta Luz; é Satã, o profanador do amor.
Ser
rico é dar; nada dar é ser pobre; viver
é amar, nada amar é ser morto; ser feliz
é devotar-se; existir só para si é
reprovar a si próprio e se enclausurar no inferno.